quinta-feira, 1 de março de 2018

Lição de sociologia política para Mueller*- Moro ®

18/2/2018, John Helmer, Dances with Bears, Moscou


"E tudo é sempre e só o mesmo veeeeeeeeeelho Projeto Pontes para a CIA, dos Moros de cá e de lá de sempre..."
"Ereção: Jamais pronuncie essa palavra (só se aplica a prédio de universidades  cujos proprietários sejam 'ministros' de STFs nos trópicos)." (Gustave Flaubert, Dictionnaire des idées reçues, 1913, verbete Erection [updated])[1]


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Os três poderes que decidem o destino dos governos são a força, a fraude e a subversão, quer dizer: canhões, dinheiro e mídia-empresa.

O Império Romano foi bom no uso de exércitos pequenos para combater exércitos muito maiores; concentrando com talento as próprias forças, deram jeito de controlar territórios muito maiores do que as legiões conseguiriam cobrir. O Império Bizantino soube como ninguém naquela época subornar nativos, para mantê-los fieis; pré-requisito nesse caso foi a inteligência para identificar a quem pagar, quanto e como e com que frequência. O Império Britânico usou a subversão para dividir e governar quase todos os seus alvos coloniais, mas onde os britânicos tiveram de enfrentar ou o poder do fogo ou o poder da inteligência, eles foram derrotados – pelos colonos norte-americanos, pelos maoris, pelos bôeres, pelos alemães, pelos japoneses.

O Império Norte-americano é invencível em matéria de subverter o próprio front doméstico. Mas em terras estrangeiras quase sempre prefere uma combinação de fraude e subversão. Quando essas duas ferramentas falham no serviço de salvar ou de derrubar governos, as guerras que os EUA inventam jamais deixaram de fracassar fragorosamente. 

Os russos são muito melhores que os norte-americanos na força e na fraude. Esquemas de subversão como os complôs inventados pelos EUA para promover Boris Yeltsin, Anatoly Chubais, Mikhail Khodorkovsky e Alexei Navalny e pô-los no comando do Kremlin, nunca convenceram a população russa, e só são considerados bem-sucedidos por estrangeiros que vivem de ler o Washington Post e o London Times.

O funcionário do Kremlin responsável pelo envolvimento da mídia russa nas eleições presidenciais nos EUA em 2016 foi Dmitry Peskov** (imagem da direita, à esquerda); faz duplo expediente como porta-voz do presidente Putin. Só porque Peskov insistiu em usar as mídias sociais, aconteceu de ele não ser acusado de coconspiração, pelo Procurador Especial Robert S. Mueller III (imagem da direita, à direitadoravante, aqui, "Mueller-Moro"). Pelas provas que Mueller-Moro revelou, de incompetência na campanha russa, desperdício de dinheiro e retumbante fracasso nos objetivos da campanha, muitas vozes em Moscou exigem que Peskov seja demitido.

Até aqui, ele tem evitado responder. "Ainda estamos examinando [a peça acusatória produzida por Mueller-Moro]", disse à Agência Reuters.

A acusação, de 37 páginas, datada de 16 de fevereiro e assinada pessoalmente por Mueller-Moro, pode ser lida na íntegra aqui (ing.).

A peça de acusação produzida por Mueller-Moro revela quantas provas ele obteve de empresas de servidores para internet e plataformas de mídias sociais, Facebook, YouTube-Google, Twitter e Instagram, além dos bancos e serviços de pagamento por PayPal. Só perfumaria. Tudo circunstancial;corpus delicti por lá, não passou.

Também está ausente do documento de acusação a identificação das vítimas do suposto crime, as muitas vítimas, e toda a grana que foi torrada para subverter ou fraudar ou as duas coisas, como Mueller-Moro diz que teria acontecido. A acusação diz que "número significativo de norte-americanos" foram alvo da ação; que "quantidade significativa de fundos foram gastos" e que "milhares de EUA-dólares [foram gastos para comprar publicidade] todos os meses"; mas há zero prova de que esses significativos números (?!) sejam corretos, caso existam. Nenhuma testemunha foi ouvida a narrar os próprios sofrimentos; não se conhece pelo nome nem um/uma suposto(a) perpetrador(a) ou conspirador(a), para dar substância à intenção de praticar crime. Além do mais, esses nem são os crimes de que os russos são acusados!

CINCO PONTOS DA ACUSAÇÃO (mas Mueller-Moro só pede pena para dois crimes) 


Para resumir, os russos são acusados (i) de violar a lei dos EUA que exige registro para agentes estrangeiros: e (ii) de roubar dados de identidade de cidadãos norte-americanos reais, além de inventar identidades falsas para abrir e movimentar contas em bancos nos EUA, cartões de crédito e o sistema PayPal. Embora se fale de uma suposta "interferência nos processos político e eleitoral nos EUA", a coisa fica órfã, e não volta a ser referida no texto da acusação.

Também fica órfã a acusação de o grupo ter obtido vistos "mediante declarações falsas e fraudulentas" e "mentiras para coletar inteligência para as operações de interferência". Mueller-Moro diz que o crime teria sido cometido em 2014, quando três dos 13 russos acusados[2] na peça acusatória visitaram por poucos dias os EUA. Contudo, a chamada "inteligência" que eles teriam supostamente obtido naqueles dias só viria a ser usada, segundo a peça acusatória, dois anos depois. Ninguém sabe, ninguém viu que importância, diabos, teria a tal "inteligência" obtida graças a "declarações falsas e fraudulentas" para obter vistos de entrada. 

Fato é que a tal "inteligência" obtida pelas tais declarações falsas e fraudulentas não tem importância alguma, porque Muller-Moro e seu 'tribunal' não acusam ninguém de fraudar vistos para entrar nos EUA.

14 semanas antes da acusação formalizada na 6ª-feira passada, executivos das empresas Facebook, Twitter, YouTube e Google testemunharam em audiência aberta no Congresso, sobre o mesmo conjunto de acusações que Mueller-Moro já apresentara, só que sob sigilo, ao tribunal federal.


IMAGEM. Da esquerda para a direita: Colin Stretch, do Conselho Jurídico da empresa Facebook; Sean Edgett, Conselheiro Geral Substituto do Conselho Jurídico da empresa Twitter; e Richard Salgado, Diretor do Departamento de Lei e Segurança da Informação da empresa Google, dia 31/10/2017, em audiência na Subcomissão de Crime e Terrorismo da Comissão de Justiça do Senado.

As testemunhas das empresas de mídia começaram por identificar número ínfimo de contas, mensagens de publicidade, número de cliques de leitores ebots (mensagens disparadas automaticamente por máquinas). Subsequentemente, aqueles números foram multiplicados nos comentários na 'mídia' nos EUA pela audiência alcançada estimada, embora se saiba que o alcance estimado não é medida de exposição real. Mesmo assim, comparado com os volumes agregados de tráfego de internet associado à eleição presidencial mas sem qualquer conexão com fontes russas, o número de materiais obtidos de fontes russas não passa de frações minúsculas de 1%. Ninguém lhes perguntou, nem as empresas de mídia se ofereceram para informar, quanto dinheiro teriam recebido de suas fontes russas de conteúdo.

Na acusação, Mueller-Moro é muito menos preciso do que exigem as leis sobre provas e os direitos do acusado nos termos da Constituição dos EUA; Mueller-Moro não quer processar os 13 que ele acusa. Num exemplo de "ato aberto" do suposto crime dos russos (Par. 71), Facebook é citada por ter publicado um spot de propaganda, dia 4/2/2016, convocando para um comício "Flórida Com Trump". A empresa Facebook cobrou dos russos por audiência de 53 mil, segundo Mueller-Moro. Mas só há 8.300 cliques registrados no spot (14%). Além de informar que essa audiência estava "routed" na página da ORGANIZAÇÃO 'Being Patriotic'", Mueller-Moro nada diz sobre os muitos – mais provavelmente: sobre os bem poucos – leitores que seguiram a página. 

Os russos estariam ainda pagando para anunciar o mesmo comício também em Instagram duas semanas mais tarde, dia 16/8, mas Mueller-Moro não tem qualquer prova a oferecer de que o anúncio sequer tenha ido ao ar. Nada de routed, nada de comícios, necas de vítimas norte-americanas, necas de prova de que algum russo tivesse tido a intenção, que fosse, de cometer o crime de interferir em eleições nos EUA.

Aparecem identificadas quatro contas em seis bancos "para receber e enviar dinheiro" para dentro e para fora [sic] dos EUA para apoiar operações da ORGANIZAÇÃO nos EUA e para autoenriquecimento". Esses bancos, bem como os bancos para lavar dólares em New York, forneceram a Mueller-Moro detalhes dos bancos originários das transações. A acusação identifica 14 nomes de empresas russas como detentoras daquelas contas bancárias. Os nomes das empresas russas aparecem com destaque, mas não os nomes dos bancos de onde o dinheiro teria saído. Se foram bancos estatais russos que estão sob sanção dos EUA e da União Europeia desde 2014 (Gazprombank, por exemplo), o documento assinado por Mueller-Moro nada informa; ninguém declarou, porque Mueller-Moro a ninguém perguntou, se se trataria de dinheiro legalmente ganho e depois legalmente transferido da fonte.

Mueller-Moro apresenta detalhes de nomes falsos ou roubados, de cartas de motorista ou de números da Seguridade Social idem, para consubstanciar a acusação de conspiração para cometer fraude de comunicação e fraude bancária. Mas a fraude nesse caso é fraude, só que não. 

Não há qualquer quantia identificada nas provas como surrupiada de alguma das supostas vítimas; todo o dinheiro, às vezes muito, às vezes pouco, foi enviado para contas bancárias nos EUA pelos supostos conspiradores russos e respectivas empresas, e gastos em anúncios de publicidade em veículos das empresas de mídias sociais. 

Quanto ao enriquecimento – repito: não se sabe quanto alguém algum dia teria ficado mais rico –, parece ter beneficiado só empresas de mídia nos EUA e bancos nos EUA

Se é que se devam levar a sério as 'provas' que Mueller-Moro oferece, tudo ali foi feito muito legalmente. Vítimas, se houve, foram os russos que teriam tido seu dinheiro surrupiado. Mas até hoje não se ouviu nenhum russo reclamando que não recebeu o serviço que comprou e pelo qual pagou.

A levar-se a sério a peça acusatória que Mueller-Moro assinou, as contas criminosas não passam de crimes sem vítimas, quero dizer, sem vítima norte-americana. É o que diz o documento assinado por Mueller-Moro.

O documento assinado por Mueller-Moro é preciso quanto aos nomes de empresas russas estabelecidas pelo principal acusado, Yevgeny Prigozhin [aqui, doravante, Prigozhin-JBS (NTs)]*** supostamente "para operações com o objetivo de interferir nas eleições e nos processos políticos". Mueller-Moro também alega que o único elo que conseguiu encontrar que leva ao governo russo, foi o registro da "ORGANIZATION [Internet Research Agency] como empresa russa", "no mês ou em torno do mês de julho de 2013." 

O documento assinado por Mueller-Moro garante que a organização de Prigozhin-JBS tinha "orçamento anual de valor equivalente a milhões de EUA-dólares", não se encontra prova de coisa alguma, sequer alguma sugestão de que, quem sabe, esse dinheiro poderia ter vindo de fonte no governo russo. Única coisa que se sabe é que as empresas operadas por Prigozhin-JBS parece que tinham "vários contratos com o governo russo".

Uma suposta empresa de Prigozhin-JBS, de nome Concord supostamente teria financiado "a ORGANIZAÇÃO como parte de operação maior de interferência financiada por CONCORD e citada como 'Projeto Lakhta." O nome é pista valiosa, mas Mueller-Moro e suas fontes na inteligência dos EUA passaram batidos e nem viram a pista.

É prática de todas as agências de inteligência em todo o mundo, inclusive nos EUA e na Rússia, gerar nomes operacionais codificados randômicos, por computador. Mas não no caso do nome "Lakhta". 

Todo mundo sabe que Lakhta é o nome histórico de um distrito de São Petersburgo, à margem do Golfo da Finlândia. Lakhta em finlandês significa "golfo"; corresponde, em russo, à palavra zaliv. Mas atualmente "Lakhta" é nome muito mais conhecido, em São Petersburgo, em referência ao Lakhta Center. É o arranha-céus de 462 metros, que está sendo construído para abrigar a sede central da Gazprom e um complexo comercial e de lazer. Está planejado para ser o prédio mais alto na cidade, na Rússia, em toda a Europa. 

Muitos, se não a maioria dos cidadãos de São Petersburgo, não querem saber do tal prédio, o que explica que o nome soe sempre, antes de tudo, com conotações muito negativas. Orçamentos estourados, concorrências viciadas e contratos com construtoras muito mais viciados em golpes que envolvem autoridades da cidade, somam-se para aumentar sempre a má fama associada ao nome Lakhta. A probabilidade de que alguma agência de inteligência ou de segurança do governo russo desse esse nome a qualquer de suas operações é zero – na opinião de todas as fontes que ouvi em Moscou.

Que Prigozhin-JBS tivesse batizado de "Lakhta" a sua operação aponta em direção à Gazprom, associação de ideias que a empresa, já sob várias diferentes sanções pelos EUA, não gostaria de ter de enfrentar. Preocupado talvez com esse 'risco', Mueller-Moro não faz a associação nem chama a atenção para ela. A mídia norte-americano, essa, então, muito menos.


IMAGEM (à esquerda): Yevgeny Prigozhin-JBS (esq.) com o presidente executivo da Gazprom Alexei Miller. À direita, Prigozhin-JBS com o presidente executivo da Rusal, Oleg Deripaska.

Dado que Mueller-Moro nada diz sobre o governo russo ter financiado, nem sobre o serviço de inteligência da Rússia ter-se envolvido no Projeto Lakhta de Prigozhin-JBS ... a acusação faz exatamente o contrário do que diz que faria. E prova que, na verdade, nem investigação houve. 

Tudo que se lê no documento assinado por Mueller-Moro foi copiado de relatórios da comunidade de inteligência dos EUA, de depoimentos ao Congresso dos EUA e de vazamentos na mídia dos EUA. Detalhes disso tudo, leem-se aqui.

Mueller-Moro observa, de passagem, que o Projeto Lakhta não visou só os EUA. A se acreditar na peça da acusação, em setembro de 2016 o projeto tinha orçamento mensal superior a 73 milhões de rublos (1,25 milhão de EUA-dólares), com pagamento de bônus aos empregados russos, de 1 milhão de rublos (1.4%). Segundo Mueller-Moro, o dinheiro estaria sendo gasto "em múltiplos componentes, alguns envolvendo públicos domésticos, dentro da Federação Russa, e outros orientados para vários públicos em outros países, inclusive nos EUA".

Aí está outra pista para que se descubra a real natureza dos negócios de Prigozhin-JBS, e a razão para a multiplicidade de nomes de empresas e departamentos funcionais mediante os quais ele operava; com folha de pagamento na qual Mueller-Moro contou "mais de oitenta" empresas, só no Projeto Lakhta. 

Fontes russas acreditam que a organização de Prigozhin-JBS foi contratada para operações domésticas, lá dentro da Rússia, pagas por empresas russas e por políticos locais russos. Algumas das operações parecem ser anúncios convencionais de publicidade e marketing para eventos, produtos, campanhas e ideias. Algumas parecem envolver a circulação de kompromat ["material comprometedor" contra político importante; é prática corriqueira nos EUA. Mas a mídia norte-americana usa a palavra na grafia abreviada em russo, para fazer crer que seria "coisa da KGB... (NTs)] contra rivais comerciais ou eleitorais; outras operações parecem visar a criar defesas contra ataques de botnet e denial of service contra websites e sistemas de comunicações empresariais; outras parecem visar websites de jornalistas investigativos russos, que têm base na Rússia ou relações com a Rússia.

Investigações feitas por jornalistas russos e agências reguladoras russas já falam há algum tempo de suspeitas de que Prigozhin-JBS esteja desviando dinheiro de contratos de fornecimento ao Estado, e para propósitos clandestinos aprovados por funcionários do Estado e executivos de empresas estatais. Uma amostra dos detalhes que circulam começa em 2014, com a investigação feita pelo website Fontanka, de São Petersburgo, que vasculhou a vida de Mikhail Bystrov e Mikhail Burchik, segundo e terceiro réus na acusação que Mueller-Moro apresentou agora.

Fontanka disse que descobriu provas de que entre os clientes pagantes da organização de Prigozhin-JBS, Bystrov e Burchik, havia um grupo de jovens da Igreja Ortodoxa Russa, autoridades municipais de São Petersburgo e uma empresa de promoção de mídia para a Gazprom. A folha de pagamento da organização, em meados de 2014, seria de 180 mil rublos por mês (cerca de 5.500 EUA-dólares). Para amostra mais recente das acusações que os russos listam contra Prigozhin-JBS , leia aqui.


Em dezembro de 2016, o nome de Prigozhin-JBS apareceu na lista de nomes postos sob sanções pelo Tesouro dos EUA. As 'provas' do envolvimento dele em 'interferência no processo eleitoral nos EUA' parecem ter sido cortadas-coladas de matérias publicadas pelo website Fontanka e outras fontes na mídia russa. Prigozhin-JBS foi acusado de:


"ajudar materialmente, patrocinar ou fornecer apoio financeiro, material ou tecnológico, ou bens ou serviços a altos oficiais da Federação Russa. Prigozhin-JBS tem contato comercial intenso com o Ministério da Defesa da Federação Russa, e uma empresa com vínculos significativos com ele trabalha num contrato para construir uma base militar próxima da fronteira da Federação Russa perto da fronteira com a Ucrânia e usou essas bases como ponto de partida para infiltrar soldados na Ucrânia."


A peça acusatória assinada por Mueller-Moro esquece de citar essa grave acusação feita contra Prigozhin-JBS pelo Tesouro dos EUA; tampouco cita as respectivas fontes russas. Para Mueller-Moro, a razão para a grande quantidade de nomes de empresas que Prigozhin-JBS usou no Projeto Lakhta seria "encobrir sua conduta" e esconder da mídia e dos investigadores norte-americanos as fontes dos fundos russos. 

Mas já há muito tempo, investigadores russos divulgavam que Prigozhin-JBS criara cadeias de empresas-fantasmas para encobrir os próprios esquemas de enriquecimento ilícito, tentando escondê-los não dos EUA, mas de seus concorrentes e investigadores e fiscais russos.

Publicamente Prigozhin-JBS respondeu só às acusações dos procuradores norte-americanos, não às acusações dos procuradores russos. "Norte-americanos são gente impressionável; veem o que querem ver" – consta que teria dito, na 6ª-feira passada, citado por agência estatal russa de notícias. – "Tenho grande respeito pelos norte-americanos. Não me incomoda absolutamente ver meu nome nessa lista. Se querem ver o diabo por todos os lados, que vejam."

Fontes russas bem-informadas acreditam que o Projeto Lakhta de Prigozhin-JBS foi criado por ordem de alguém que estaria chantageando Prigozhin-JBS. Excluem o pessoal do Conselho de Segurança do Kremlin – Sergei Ivanov, Sergei Lavrov, Sergei Shoigu, Anton Vaino, Nikolai Patrushev, Sergei Naryshkin – e absolutamente não veem como ou por que o presidente Putin ou alguém da inteligência russa apoiaria essa negociata tola.


Na avaliação das minhas fontes russas, o elemento pró-campanha norte-americana no Projeto Lakhta tem de ser alguém tão "perfeitamente idiota e burro, tão perfeita cavalgadura, que só conhecemos um homem que consideraria o projeto Prigozhin-JBS interessante, na comparação com o risco monumental, a ponto de apostar dinheiro naquilo: Dmitry Peskov". Peskov carrega o cargo oficial de Vice-Chefe do Gabinete Executivo da Presidência e Secretário de Imprensa do Presidente. Cuida dos orçamentos do Kremlin aos orçamentos para os retransmissores da televisão estatal RT, da agência estatal de notícias Sputnik e os programas especiais de propaganda que visam aos EUA, como o Clube Valdai de Discussão e filmes de Oliver Stone.

O dossiê Christopher Steele acusou Peskov de promover mídia negativa contra Hillary Clinton durante o ano de 2016; para analisar a veracidade dessa ideia, leiam aqui. Para conhecer dolorosa análise de como e o quanto a acusação assinada por Mueller-Moro desacredita o dossiê Steele, leiam a matéria escrita por Alexander Mercouris.

Especialistas russos denunciam que os EUA culparem os russos por todos os crimes imagináveis, pelas mídias sociais, como faz Mueller-Moro, foi erro colossal, porque o público das mídias sociais nos EUA era predominantemente jovem e predominantemente pró-Clinton. Entre a intenção de voto e o voto efetivamente votado, as mídias sociais fizeram diferença praticamente nenhuma.


Mapa: Geografia da Intenção de Voto a Favor de Hillary Clinton e de Donald Trump, entre Jovens de 18-24 Anos 

Os mapas da pesquisa de boca de urna feita por CIRCLE-Tufts University sobre como os norte-americanos jovens realmente votaram mostram que a proporção de jovens brancos que votaram em Hillary Clinton permaneceu inalterada (dentro da margem de erro), se comparada aos votos, do mesmo grupo, para Barack Obama em 2012 e para o candidato Democrata em 2004, John Kerry. Os votos dos homens jovens brancos para Donald Trump em 2016 foram ainda menos que os votos do mesmo grupo para Mitt Romney, o candidato Republicano que disputou contra Obama em 2012; os derrotados então foram Kerry e Romney. A íntegra da pesquisa CIRCLE pode ser lida aqui. O comparecimento às urnas, no grupo de jovens eleitores não muda desde 2012.

Segundo o relatório da pesquisa CIRCLE,


"o presidente eleito Donald Trump, embora tenha 'perdido' entre os jovens numa proporção de 55% contra 37%, ganhou apoio em segmentos do eleitorado jovem: brancos, evangélicos e jovens das áreas não urbanas. Não surpreendentemente, também ganhou apoio entre os jovens cujas ideias e preocupações estão muito próximas dos temas aos quais Trump dedicou sua campanha: a situação terrível em que o país se debate, interesse claro em controlar com eficácia a entrada de imigrantes e a muito visível falta total de credibilidade/respeitabilidade na candidata que se opunha a Trump, Hillary Clinton."


MapaVOTO DOS JOVENS. ANÁLISE DA PESQUISA DE BOCA DE URNA 

A grande diferença no padrão de voto entre os públicos jovens das redes teve base no gênero, segundo a pesquisa CIRCLE. Mulheres jovens votaram na Clinton; homens jovens, em Trump.


"Clinton venceu com grande diferença entre grupos demográficos de mulheres solteiras jovens e jovens negras e mulatas; não seduziu homens jovens brancos nem moderados brancos jovens. Alguns desses grupos apoiaram fortemente o presidente Obama, com grandes margens, em 2008 e 2012."


Não há qualquer sinal na acusação assinada por Mueller-Moro, de que a organização de Prigozhin-JBS tenha compreendido bem essa tendência amplamente confirmada na pesquisa.

A tendência na preferência entre a candidata Democrata e o candidato Republicano foi mínima, pequena demais entre jovens (homens e mulheres), para que os sociólogos da pesquisa CIRCLE pudessem identificar qualquer impacto das mídias sociais no resultado da disputa eleitoral entre Clinton e Trump. A maior mudança no eleitorado masculino jovem não foi a favor de Trump, mas contra Clinton e na direção de candidatos alternativos.


Essa boa sociologia da eleição presidencial não é novidade. O relatório da pesquisa CIRCLE foi publicado pela primeira vez dia 17/11/2016, apenas nove dias depois do dia da votação popular. O fato de que os eleitores distanciaram-se dos dois candidatos principais é bem conhecido. 

"Os jovens parecem estar manifestando seu desacordo e seu descontentamento com os dois partidos," – conclui o relatório da pesquisa CIRCLE:


"O Partido Republicano tem pequena base entre os jovens, que são cada vez mais de esquerda'.ATENÇÃO 
Sequer a ideologia dos jovens conservadores alinha-se necessariamente  com os Republicanos mais velhos. Dada a virada dos jovens para a esquerda, pode ser até mais difícil para os Republicanos aumentarem a própria base dos jovens. Nessa eleição, os Republicanos enfrentam desafio adicional: a aversão dos jovens Republicanos contra o indicado do próprio partido."


O Instituto Brookings, o think-tank de Washington que mais assumidamente apoia Clinton, chegou à conclusão de que a derrota da candidata teria sido causada por "revide", entre os eleitores mais velhos. 

Em outras palavras, a verdade é que a derrota de Clinton, a vitória de Trump, é efeito dos votos dos norte-americanos mais velhos. Não são os eleitores que teriam sido alvos da campanha que os russos teriam mobilizado pelas mídias sociais; os norte-americanos que elegeram Trump nem viram os spots de propaganda e os tuítos que Mueller-Moro diz hoje que seriam conspiração criminosa para "fraudar os EUA ao obstruir e derrotar as funções legais do governo."

A reação oficial dos russos à acusação formal foi ridicularizar a suposta interferência dos russos, sem falar da questão do registro de estrangeiros e das acusações de falsificação de identidades. "13 pessoas modificaram o resultado de eleições presidenciais nos EUA?!" – Perguntou a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores Maria Zakharova. – "13 pessoas contra serviços de inteligência com orçamento de bilhões de dólares, contra as tecnologias mais avançadas? Parece absurdo? É porque é absurdo." Para o ministro ao qual Maria é subordinada, Sergei Lavrov, "a menos que apareçam fatos, o resto não passa de maluquice. Desculpem o palavreado pouco diplomático." 

A reação russa não oficial relacionada às atividades de Prigozhin-JBS nos EUA é mais complexa e, censurada pelos EUA, mais privada. O outro lado reconhece que Prigozhin-JBS é operador comercial; tudo indica que trabalhe para cliente que lhe paga. Se esse cliente tem ou não tem algo a ver com o Projeto Lakhta ainda é objeto de especulação, sem qualquer comentário, até agora, na mídia russa.

Advogados russos que analisam os fatos apresentados na peça acusatória de Mueller-Moro sugerem que o grande crime em todo o caso pode ter sido crime contra a Rússia. Se os números 'de varejo' de Mueller-Moro estiverem corretos, nesse caso Prigozhin-JBS pode ter gastado muito menos dinheiro e para resultado e objetivos muito inferiores aos que Prigozhin-JBS fizeram seu cliente acreditar que seriam possíveis e pelos quais pagaram. Se houver diferença entre o que Prigozhin-JBS recebeu como pagamento e o que Mueller-Moro sugere que ele teria gastado, Prigozhin-JBS pode ser acusado de fraude em tribunais russos – e quem pagou a ele pode ser acusado de crime de abuso de autoridade.

"O Procurador norte-americano vê crime em um russo fazer-se passar por norte-americano?" – surpreendeu-se um advogado em Moscou. – "E Moscou verá o quê? Só se o Procurador Geral russo acusar Prigozhin-JBS pelo crime de torrar todo aquele dinheiro só p'ra conseguir fazer-se passar por idiota universal."*****



NOTAS
* Robert S. Mueller III, Diretor do FBI e nomeado Procurador Especial encarregado pelo "governo nas trevas" de Bush-Obama-Killary, nos EUA-2018, de inventar um 'caso' segundo o qual "os russos" teriam interferido nas eleições presidenciais nos EUA, intervenção a qual seria a 'explicação' para a fragorosa derrota dos Obama-Killary-Clintons & FBI-com-tudo nas eleições presidenciais, por lá. Mueller **É** o juiz Moro plus TFR4 plus STF-com-tudo de lá, p'ra "estancar a sangria e deixar tudo como está, parar onde está", também lááá, dos EUÁÁÁ [NTs].
[1] Epígrafes acrescentadas pelos tradutores.
** Dmitri Peskov é conhecido no 'ocidente' (1) por usar um relógio de 600 mil EUAdólares e, depois, (2) por ter passado a lua-de-mel num iate de milionário. Na Rússia tem fama de ser extraordinariamente burro (o que faz lembrar Rodrigo Maia, da história do Brasil em 2018), mas ninguém dá sinais de duvidar de que seja homem honesto (o que faz esquecer imediatamente Rodrigo Maia, da história do Brasil em 2018 com-tudo) [NTs].
[2] Os 13 acusados são Yevgeny Viktorovich Prigozhin, Mikhail Ivanovich Bystrov, Mikhail Leonidovich Burchik, Aleksandra Yuryevna Krylova, Anna Vladislavovna Bogacheva, Sergey Pavlovich Polozov, Maria Anatolyevna Bovda, Robert Sergeyevich Bovda, Dzheykhun Nasimi Ogly Aslanov, Vadim Vladimirovich Podkopaev, Gleb Igorevitch Vasilchenko, Irina Viktorovna Kaverzina e Vladimir Venkov. Três foram acusados também, como agravante, de conspirar para cometer fraude eletrônica e fraude bancária; cinco foram acusados também, como agravante, de roubar documentos de identidade.

         À parte, o 'tribunal' Mueller-Moro anunciou que um Richard Pinedo, de Santa Paula, California, declarou-se culpado de roubar documentos de identidade. Pinedo, 28, admitiu que animava um website que oferecia identidades roubadas para ajudar seus clientes a burlar as medidas de segurança de grandes sites de pagamentos (17/2/2018, The Guardian). Ninguém entendeu o que isso teria a ver com o 'caso' dos agentes russos que 'interferiram' na derrota da Killary só que não [NTs].
*** Yevgeny Viktorovich Prigozhin é alguém que nunca saberemos quem é, porque TODOS OS JORNAIS E REVISTAS em inglês E A WIKIPEDIA em inglês só sabem, dele, que "é chamado milionário 'cozinheiro de Putin'"; milionário "íntimo de Putin"; milionário que "serve a comida que Putin come em jantares 'nababescos' em Moscou" e mais desse mesmo, sempre repetindo o mesmo jornalismo inútil. 

            Ninguém errará se, como fazemos aqui, ignorarmos a biografia do sujeito e o chamarmos de "Prigozhin-JBS", parceirinho de Mueller-Moro, no sentido de que Prigozhin-JBS joga no mesmo time de Mueller-Moro e absolutamente não é amiguinho do presidente Putin nem da presidenta Dilma nem do presidente Lula nem dos eleitores que elegemos todos esses presidentes legais e legítimos. Mas com certeza o cara é colega e parceiro da mesma facção criminosa comandada pelo golpista Temer e seus 40 ladrões plus CIA e Mueller-Moros universais (NTs).
ATENÇÃO  No orig. "liberal" (ing.). Toda atenção é pouca! Nos EUA, liberal (ing.) significa sempre "de es-quer-da". Não significa grande coisa, porque para o norte-americano médio, educado pela TV, qualquer pessoa que se posicione à esquerda do AIPAC sionista já é dita liberal (ing.), quer dizer, "de esquerda". O que a pesquisa diz, traduzido para a terminologia corrente no Brasil, é, apenas, que "os jovens nos EUA" são cada dia menos de direita (NTs).

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