sexta-feira, 26 de maio de 2017

ISIS é "parceiro" dos EUA em operações contra russos na Síria

Eis o que Trump passou a funcionários russos (diz o WPost) 



21/5/2017, John Helmer, Dances with Bears, Moscou











"Nunca confies em quem anda de braços dados com teu inimigo"

Um repórter do Washington Post revelou que o caso do laptop do Estado Islâmico, que o presidente Donald Trump mencionou ao ministro russo de Relações Exteriores Sergei Lavrov na Casa Branca, semana passada, veio do próprio Estado Islâmico, trazido pela Agência Central de Inteligência [ing. Central Intelligence Agency (CIA)]. A razão do vazamento contra Trump, noticiada em seguida no Post e na mídia anglo-norte-americana também foi revelada pelo Post. 

CIA e pelo menos um alto funcionário do Conselho de Segurança Nacional que informou a CIA sobre o que Trump dissera estão furiosos contra o presidente Trump, por ele ter revelado a colaboração entre agentes do Estado Islâmico e 'ativos' a serviço do governo dos EUA em ataques contra alvos russos, inclusive contra passageiros russos de voos comerciais.

Matéria publicada pelo Washington Post na noite de domingo dizia que Trump teria "revelado informação top secret ao ministro de Relações Exteriores [Lavrov] e ao embaixador [Sergei Kislyak] da Rússia num encontro na Casa Branca no fim de semana, segundo atuais e ex-funcionários dos EUA, que disseram que a incontinência verbal de Trump põe em risco uma fonte de inteligência sobre o Estado Islâmico criticamente importante."

A fonte, segundo o Post, foi "um parceiro dos EUA num arranjo de compartilhamento de inteligência considerado tão sensível que nenhum detalhe foi repassado aos aliados, e é mantido severamente restrito, mesmo dentro do governo dos EUA, disseram os funcionários. O parceiro não autorizou os EUA a partilhar aquela informação com a Rússia, e os funcionários disseram que a decisão de Trump, de partilhar a informação, punha em risco a cooperação de um aliado que tem acesso às operações mais internas do Estado Islâmico."

O texto do jornal norte-americano não se refere ao "parceiro" como país, governo ou agência estrangeira de inteligência. Nesses termos, e sempre se referindo à fonte da inteligência como "parceiro chave", o jornal diz que "Trump revelou a cidade, no território do Estado Islâmico onde o parceiro da inteligência norte-americana detectou a ameaça." Entendeu-se que a localização geográfica onde o "parceiro" estaria em operação seria dentro do "território" do Estado Islâmico.

A publicação também diz que teria tido acesso a uma transcrição verbatim [lat. no original: "transcrição palavra a palavra" (NTs)] do que Trump dissera no encontro com Lavrov, falando de sua fonte como "funcionário com conhecimento do intercâmbio".

Um dos repórteres do jornal que escreveu a matéria apareceu numa entrevista por videotape que foi publicada pelo Post depois de a versão impressa ter aparecido. É Greg Miller (imagem). Miller, californiano que trabalhou para o Los Angeles Times antes de se mudar para Washington em 2010, "cobre agências de inteligência e terrorismo".

"Trump revelou inteligência top-secret em reunião com russos no Salão Oval" (Fonte)

Ouçam atentamente o que diz Miller (fala sobre si mesmo, revela suas fontes no alto comando do Conselho de Segurança Nacional e na CIA). A partir de 1'52 nesse vídeo, Miller diz o que descobriu e como descobriu; e fala de "membros do seu [de Trump] próprio Conselho de Segurança Nacional, altos funcionários que têm acesso pleno a atas do que foi falado. Chamam o diretor da CIA, da Agência de Segurança Nacional para alertá-los, para dizer 'Olhem, aconteceu algo nessa reunião com os russos. Temos de dizer a vocês o que aconteceu.' Tudo isso, em parte, porque estão alarmados e preocupados com o revide. 


Essas são as agências, a CIA, que estaria em comunicação direta, ou negociando diretamente com o parceiro estrangeiro. Claro que tinham de estar muito preocupados com tudo isso."

Miller não dá os nomes dos funcionários que teriam lido a transcrição da conversa de 10 de maio entre Trump e Lavrov e contado a ele. 

Dois altos funcionários diretamente ligados às operações dos EUA contra Rússia na Síria e em todo o mundo, são Fiona Hill, diretora do Conselho de Segurança Nacional para Rússia, e Gina Haspelnomeada dia 2 de fevereiro como nova vice-diretora daCIA; foi diretora de operações clandestinas e de terrorismo da CIA.

Sobre as conexões de Hill com a Rússia, leiam aqui. Haspel é funcionária de carreira da CIA cujos postos no país e operações são praticamente todos secretos; não foi possível encontrar qualquer fotografia dela no planeta, oficial ou extraoficial.

Esquerda: Fiona Hill no antigo emprego, no think-tank Brookings, em Washington. Direita: Diretor da CIA Mike Pompeo, respondendo à sabatina de confirmação no cargo, no Senado dos EUA, dia 12/1/2017; sentada atrás de Pompeo vê-se sua esposa, Susan Pompeo.
Segundo a matéria do Washington Post, "depois da reunião de Trump, altos funcionários da Casa Branca tomaram providências para controlar o dano, com telefonemas para a CIA e a Agência de Segurança Nacional". Para informação sobre outras 'fabricações' e 'invenções' do Post, leiam aqui.

Altos funcionários da Casa Branca, incluindo o próprio Trump e o conselheiro de Segurança Nacional general H.R. McMaster, discutiram o "dano". Segundo McMaster, "o presidente e o ministro de Relações Exteriores revisaram ameaças contra ambos os países, vindas de organizações terroristas, inclusive ameaças à aviação". Segundo o próprio jornal, "o Washington Post não divulga vários detalhes dos planos terroristas, inclusive o nome da cidade, a pedido de funcionários que reiteram a absoluta necessidade de não pôr em risco ou destruir importantes capacidades de inteligência." O Post acrescentou editorialmente, por sua conta, sem citar fontes: "Para praticamente todos dentro do governo seria ilegal discutir esses assuntos com força adversária".

McMaster respondeu, dia seguinte: "A premissa da qual parte esse artigo é falsa."

"McMaster: Trump decidiu partilhar informação de inteligência em conversação com os russos"
O general McMaster na 3ª-feira ao meio-dia, hora de Washington. "Se você tivesse de dizer de onde, na sua avaliação, poderia vir uma ameaça de dentro do território que ISIS controla, você provavelmente conseguiria citar algumas cidades. Quero dizer: não seria algo impossível, citando só matérias divulgadas ao público, em termos de fonte de preocupação".

A diferença entre as duas versões, a do general e a do jornal, é que o dito "parceiro dos EUA" é controlado pela CIA para operações do Estado Islâmico contra a Rússia. 

As "ameaças contra ambos os países", às quais se referiu McMaster – isso é, um complô do Estado Islâmico contra passageiros norte-americanos e russos de aviões comerciais – é elucubração, parte de uma conspiração que altos agentes do Conselho de Segurança Nacional e CIA não querem que seja revelada ao real adversário das agências. Esse adversário, segundo Miller e suas fontes oficiais no governo dos EUA, não é o Estado Islâmico: é a Rússia.

Nesse videoclip, Miller revela que sua fonte no Conselho de Segurança Nacional começou por telefonar para a CIA, e então o próprio Miller recebeu a mesma notícia. Significa que pelo menos uma pessoa, possivelmente duas – uma na ala do Conselho de Segurança Nacional dentro da Casa Branca, e outra na CIA –, vazaram uma história para o Post com o objetivo de causar grave dano a Trump. 

A razão disso tudo, segundo fontes de inteligência que conhecem bem as operações de terrorismo contra a Rússia, é que Trump identificou uma conexão de EUA e Estado Islâmico que está ativada e é operacional contra alvos russos. 

Que o governo Obama e a CIA já faziam isso não é segredo para ninguém. Nem é segredo a existência de 'ações' organizadas e executadas pelo Estado Islâmico e a CIA contra aviões civis russos e de outros países.

[Legenda] Destroços no ponto principal da queda do avião:
1. Nariz / 2. Cabine de comando / 3. Porta / 4. Asas

Resultado de ataque com bomba, pelo Estado Islâmico, contra avião russo de passageiros que voava entre Sharm el-Sheikh e S. Petersburgo dia 31/10/2015, como noticiado pela BBC. Todos os 224 russos que viajavam no Metrojet Voo 9268 foram mortos. Para mais detalhes, clique aqui.

Miller revela também uma tentativa para encobrir, depois expor o que ele, seu jornal e fontes no governo dos EUA creem que causou dano ao seu colaborador do Estado Islâmico. 

Entre os minuttos 0'55" e 1'02'' do videoclip Miller diz "o problema [sic] é que os EUA têm conhecimento de grande parte dessa informação por causa de inteligência que veio de um parceiro, outro país." Nada no texto publicado da história diz que o "parceiro" seria "outro país"; quer dizer, governo ou serviço de inteligência de outro país. No videoclip de Miller, ele não volta a pronunciar a palavra "país". O "parceiro" dos EUA na luta na Síria contra os russos é membro do ISIS.*****




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