sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Sorry, Floquinho de Neve*, mas ainda não acabôou...

10/11/2016, Francis Marion, The Burning Plataform  [lit. "chapa quente"]


* Definição de "Floquinho de Neve" (Snowflake) segundo o Urban Dictionary, aqui.











Já é 10 de novembro. É hora de encarar a cantoria.
Para os da esquerda, sei que não é fácil. Você está confusa, atônita e profunda, profundamente triste. Talvez até, de cama. Provavelmente faltou ao trabalho ou à escola ontem, arranjou um atestado de doente ou, talvez, nem conseguiu sair da cama. Mas tudo bem, porque sua professora de Estudos da Mulher Indígena disse que ok não fazer o exame de hoje. Todos terão nota máxima como heróis da moralidade. Não desista. Anime-se!


Mas até aí infelizmente nada explica coisa alguma. Como pôde acontecer? Não era para acontecer. Mas aconteceu? Como as pesquisas puderam errar tão completamente? E toda a mídia-empresa? Como?

Bem, aqui vão umas poucas teorias que talvez a ajudem a ver onde você mais errou. Primeiro, e provavelmente sobretudo, foi efeito dessa sua húbris demodée. A ideia de que "ninguém pode nos derrotar". Arrogância misturada com viés de auto-referência autista é negócio perigoso em qualquer tipo de conflito, de tipo físico ou outros. Veja aí o caso do general Custer. Coisas não deram certas p'ro lado dele, e pelas mesmas razões.

E isso nos leva diretamente a outro problema que frequentemente nasce da húbris. Falo de você absolutamente não compreender o seu inimigo.

Deve interessar a você saber que eu, autor dessa missiva, não sou norte-americano. Pois é. Não sou ianque. Não moro nos EUA e não tenho nenhum interesse em morar aí. Implica que, diferente dos imigrantes meus contrapartes ilegais que atualmente vivem no seu país, eu não votei.

Mas, como muitos dos que se encaixam no lixão dos "deploráveis" residentes nos EUA, eu percebi desde cedo que a batalha entre Trump e Clinton era muito mais que simplesmente um concurso entre dois políticos, na disputa pela presidência. No coração dessa batalha havia um conflito ideológico entre luz e breu, verdade e mentiras. Era luta pela posse do coração da civilização ocidental assim, no geral.

E embora jamais me tenha considerado pessoa de direita (sinto-me muito mais um libertarista), vi-me cada vez mais empurrado e marginalizado pelos "iluminados e progressistas" que habitam entre vocês, no mesmo campo com todos os tipos de "deploráveis", sem considerar onde viviam nem o que dizem, eles, deles mesmos. Nationalistas, alt righters[1], anarquistas, constitucionalistas e por aí vai, todos são estranhos parceiros de cama, sim, mas formam um time que joga e ganha. Operando sobre a premissa de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo, todos encontramos campo comum. Isso, vocês tem de agradecer a vocês mesmos. De tanto assédio, insultos, provocações dia e noite, sem parar, para nos marginalizar e descartar, vocês criaram algo novo. E a criatura algo-nova acabou com vocês nas urnas eleitorais.

Há também outros fatores. A amaldiçoada internet, por exemplo. Permitiu que os nossos, que não podem votar, pudessem contribuir por outras vias. Mediante memes, vazamento e trolagem em geral, nós festejamos, promovemos e apoiamos nossos irmãos e irmãs amantes da liberdade aí no país de vocês e os encorajamos a ter fibra e segurar o timão sem sair da rota. Claro, nossa parte foi pequena, minúscula na verdade, comparada ao que nossos irmãos e irmãs norte-americanos tiveram de aguentar. Mas você já entendeu o quadro geral.

Eleições, sobretudo as que chafurdam em coisas repugnantes como ideologia e princípios, já extravasaram as fronteiras nacionais. É sacal, eu sei, mas falta de imaginação do lado de vocês não equivale nem representa falta correspondente cá do nosso lado. Nada fizemos de ilegal ou imoral. Simplesmente acabamos com vocês nas urnas porque, ora essa... Porque fomos mais espertos que vocês.

Mas não precisam preocupar-se. Haverá muitas e muitas oportunidades para que vocês aprendam pelos próprios erros. Vejam, a batalha que teve lugar nos pontos de votação dia 8 de novembro foi apenas isso. Uma batalha. Nós, povos ocidentais amantes da liberdade, bem, quero dizer... nós estamos só começando o aquecimento. Para citar o homem, "Você ainda não viu nada" [ing. "You Ain’t Seen Nothing Yet"].


Assim sendo, recolha-se aos seus espaços de conforto, pegue seu livrinho de colorir para adultos e faça cara bem feliz, meu floquinho de neve especial, porque, seja você quem e o que for, e seja qual for o país onde você viva, nós, os deploráveis, vamos pegar você.*****







[1] Os "alt-right" [intraduzível] apresentam-se como um dos segmentos da ideologia de direita que rejeitam o conservadorismo hegemônico nos EUA. Em boa parte, esses direitista têm gase na intentet e podem ser observados em websites como 4chan e 8chan, onde membros anônimos criam e usam memes de internet como recurso de autoexpressão. É difícil saber o quanto do que esse pessoal escreve é sério, e o quando visa só a escandalizar/provocar. Os alt-right usam Twitter e Breitbart News para levar sua palavra às massas [de Wikipedia] [NTs]

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